terça-feira, 14 de maio de 2019

VIDA


Collado
VIDA

Colocam-nos um nome
ao nascer
nome que não se encaixa
e de que não sabemos a história.
Registam-nos
com os apelidos da família
que se agarram,
se colam como letreiro
em cobertura de autocarro.
Pensam para nós destinos,
orientam-nos na vida
no leme dos seus sonhos.
Não nos querem actores,
músicos ou malabaristas.
Põe-nos no altar mais alto,
somos santos à força
e vetam-nos os pecados.
Dão-nos vagas esperanças
de uma carreira, vida boa,
não falam de percalços,
de desgostos e lágrimas.
Frisam o céu
como corolário perfeito,
depois da morte imperfeita
o resumo de nós
em três linhas mal alinhavadas.
Memórias livres de fantasmas,
educadamente
chamam-nos boas pessoas.
Flores só no aniversário
presas em ramos, laçarotes
com forma e garrote
para que durem, durem,
tal qual a eternidade.
O nosso pousio é alegre e triste
conforme o ângulo
em que voam os pássaros.

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