terça-feira, 8 de maio de 2012

COMER

Óleo de José González Collado

COMER

Vou comer
rodelas de beringela,
frita em azeite e alho
e ainda um prato inédito:
frango molhado em mel!
Sinto um certo embaraço
ao continuar a desfiar
o meu prazer de comer,
mas vou acrescentando ao repasto
uma mão cheia de morangos
e figos regados por moscatel!
Esta coisa simples que é comer
pode ser algo grande:
a vida em transformação,
o namoro começado,
morta a fome,
saciado o desejo!

TRIBUTO AO 25 DE ABRIL


pintura de Fernanda das Neves
TRIBUTO AO 25 DE ABRIL

Nem a chuva tem já força
para te chorar, Abril !
Este tempo de chumbo,
de ignorância política,
de gritos pesados
e de silêncios globais,
não tendo a Pátria meios
para dominar o nojo
que é limpar o cu à Europa,
velha, gorda, doente!
Que tempo é este
que nos esgota
em novos despejos
e incidentes estranhos
com polícias armados!
Há um cheiro bafiento
erguendo - se da tumba do medo
vergando - nos até à chibata!
A Primavera tão fria
não traz o pão para a mesa,
a angústia penetra até ao umbigo,
os erros sucedem - se
fechando o portal da liberdade!
Não,
não cortem as raízes dos sonhos,
não destruam os recursos da esperança,
não desfigurem este país:
facho, luzeiro, lua,
caravela, nau, marinheiro,
mundo novo, mar presente,
namorados ensaiando
um beijo cheio.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

O Ministro e o Cão

Cristóvão de Morais (actividade c.1551-73)

O Ministro e o Cão 

Qualquer ministro,
que creio ser gente,
sentado na gloriosa cadeira do poder,
não lhe dói a gente
que é a sua gente !
O cão que não é gente,
olha o ministro como gente
e lambe-lhe a mão!
Moral  da história:
Se me é dada a escolha
prefiro o cão!