quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

RETRATO DE LAURINDA

Onofre Varela
RETRATO DE LAURINDA   

Sorris,
a boca escancarada
numa larga gargalhada,
contagiante.
És o que és,
a rir a chorar,
faças o que fizeres,
estejas onde estiveres,
és sempre o início
de qualquer coisa boa.
Um ramo de flores,

talvez a Primavera.

COLEGA DE ESCOLA



Iria Rodriguez
COLEGA DE ESCOLA  

Manhã cedo,
levantada a neblina,
uma pedra,
uma pedrinha pequenina
batia na minha janela,
eu pensava:
que seja um bom dia!
Eras tu Pedro
a chamares-me para a escola,
desejo de companhia
antes que chegasse a professora.
Éramos nós,
infantilmente despreocupados,
ocupando o lugar ideal
no pátio,
para jogar ao mata.
Brincávamos, falávamos,
sobretudo gostávamos

de estar um com o outro.

RISCO DE LUZ


Armando Alves
RISCO DE LUZ

Donde saiu esta luz,
ferindo-me os olhos,
arranhando os nós da alma,
sustendo os meus gestos.
Alterou-se o ritmo biológico,
contei os goles de café
contidos numa chávena,
soltei o olhar,
no guardanapo de papel,
ali à minha frente,
selei com um poema
o momento.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

ESTADO DA NAÇÃO

Lídia Martinez

ESTADO DA NAÇÃO

Dizem:
tudo continua igual
a economia estagnada,
cresce a dívida pública.
Eu continuo a trabalhar
com afinco, dedicação
e até com alguma devoção.
Levanto-me às sete
às nove estou a computar
diante de números,
mais números
e ainda números
numa contabilidade minuciosa
devida à firma do patrão.
Dançam frente a meus olhos
cálculos, deve, haver
facturas, orçamentos.
À noite, cansada.
sento-me no canto do sofá
e penso:
produzo o dia inteiro
para ganhar algum dinheiro,
pago os impostos devidos
contribuo para o país avançar.
Quem não cumpre
quem não trabalha

quem arrecada sem o merecer?

IGNORÂNCIA

Collado

IGNORÂNCIA  

Há muita coisa
que não sabes de mim,
por omissão
ou por falta de curiosidade
Sentada na cidade fria
no fim da tarde outonal
é tarde para questionar,
é tarde para responder.
É inútil o convite
para um jantar gourmet
num restaurante  da moda
na Foz.
Pequenos barcos riscam o rio,
o cais está animado,
passageiros aguardam a viagem
tagarelando,
eternizando o momento
ao fotografá-lo,
as gaivotas revolteiam,
os gatos vadios
procuram comida
no saco rompido.
Ninguém escreve poemas,
é denso o nevoeiro,

até amanhã, vou para casa.

RETRATO DE BERNARDA

Collado

RETRATO DE BERNARDA  

Desprendida, vibrante,
acutilante, bonita
nada te abate,
pássaro andante.
perturbando a paisagem
que tem a seus pés.
Uma brisa agreste
arranha-te a cara
os teus dedos distendem-se
circundando devagar
a tua boca vermelha.
Não há mistério
quando te sentas no meu colo
curvo
agarrando-te a mim
teu apoio, teu esteio.
Tranquilamente
elevas a minha mão
e a sombra não te abriga,
cerras os olhos azuis,
intensos, aguados,
Crescemos juntos
e juntos experimentamos

o doce sorvete da vida.

DESEJO

Collado

DESEJO

Um dia ainda hei-de querer-te
plantado  no meu jardim,
jacinto nascendo
em cada mudança de lua.