quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

ANJOS


Collado
ANJOS

Os que falam dos anjos
dizem-nos etéreos,
com longas asas brancas,
os que eu conheço
são alarves,
gostam de banquetear-se
nas tascas de Matosinhos,
mastigando bocas de sapateira
regadas a cerveja preta!
Vivem à maneira humana,
comem com as mãos
fatias de carne picante
molhadas em canela e mel!
Tocam guitarra acústica
frente a portas antigas
que dão para escadarias
onde se sentam raparigas
anafadas!
Amarram o cabelo
Com fitas coloridas,
e divertem-se de uma forma
comezinha,
atirando piropos brejeiros
às vizinhas!
Trabalham em oficinas escuras
e no fim do dia, cansados
não regressam logo
às suas casas
de bairro sujo,
visitam velhos sós,
lavam-nos com lavanda,
vestem-lhes roupas passadas,
dão-lhes à boca
uma sopa quente!
Os velhos comovidos
Agradecem:
Até amanhã, Anjos!

Maria Olinda Sol

RUA MORIBUNDA

Joaquim Durão


RUA MORIBUNDA

Rua estreita
com fachadas esfareladas,
deserta de sentimentos
onde estão as vendedeiras
de violetas?
Quem te quis abandonada
de lojas fechadas
e ausência de gente?
Os poetas ainda passam
por esta rua esquecida
recitando baixinho poemas!
Os namorados tardios
beijam-se às escancaradas
perdidos nesta ruela,
encaixam bem os poemas!
As velhotas debruçadas
nas janelas enferrujadas,
abrem a madrugada
e enxugam devagarinho
o orvalho preso nelas!
Os raros catraios
reguilas, espevitados,
roubam, da frutaria triste,
as maçãs,
que não têm em casa!
A vida é processada
nesta rotina parada,
diária,
as nossas velhas sentadas,
em decadentes esplanadas
tentam que a vida sorria
nesta rua que se apaga!