sexta-feira, 20 de setembro de 2013

ESTRANHA É A SAUDADE


ESTRANHA É A SAUDADE

Sendo os dias obscuros
tento encontrar-me
nos retratos
amarelecidos,
guardados
na primeira gaveta da cómoda
robusta,
de cerejeira maciça,
que herdei da minha  avô!
Essas fotografias
amarram alguns  príncipes
inventados,
não cabendo no perfil diário
de homem comum
errando sempre
a reboque de um egoísmo
desenfreado
e de silêncios continuados!
São recordações,
sofá aconchegado,
chinelo almofadado,
café quente,
passando lá fora
ventos de rachar
tempestades vindas do mar !
No horizonte
avisto a barcaça,
esfumou-se a saudade,
partir  é urgente!
Desenlaço os nós
instalo-me nos sonhos
e aí vou eu
nos cabelos da estrela  da manhã,
inesperadamente
as rosas amarelas
abrem e salpicam o mar
onde estou a navegar!

FIM DE VERÃO


FIM DE VERÃO

Choveu esta madrugada
e a janela do quarto orvalhada
esfumou a paisagem
entre o quarto e o jardim!
Um ruído estranho,
lá fora,
perturbou o silêncio,
caiu a casca da oliveira ?
o ramo do damasqueiro?
ou era um barco
acabado de partir ?
Foi apenas
um ligeiro sobressalto
num dia
em que nada aconteceu!
O sonho soltou-se
e eu só queria ter
um astrolábio,
um mapa,
um pipo de mantimentos,
fechados na minha mão,
partindo logo a seguir!

QUE DIA


QUE DIA

Entediante,  
rapariga,
era o meu dia,
antes de  surgires,
o teu corpo de tão insinuante
doía-me o meu toque
em ti!
Esvoaçantes os cabelos loiros
enrolavam-se nos nossos beijos
e o azul, tão azul,
dos teus olhos
traziam à terra o mar!
Ah! Mulher surgida
do nada da vida,
plantada em mim,
com raízes estranhas
que mudaram tudo,
até o voo das aves do céu,
o contorno do meu corpo
e o destino que tracei para mim!

DIA DE PRAIA


DIA DE PRAIA

Que pensa aquela criança,
loura,
branquela,
vinda de Kiev
ou de Estocolmo,
enquanto enche,
sucessivamente,
baldes
de água salgada
que despeja meticulosamente,
num buraco,
aberto pelo papá,
louro,
branquela,
vindo de Kiev
ou de Estocolmo!
De onde virá
o seu sorriso,
aberto,
que se banqueteia
numa tarefa árdua,
repetitiva,
enfadonha?
A mãe deliciada,
tira o tripé de um saco
e eterniza o momento
coma máquina fotográfica!
Por fim dão tréguas
à tarefa,
exaustos,
sentam-se na areia
dourada
e bebem coca cola gelada
e sandes de presunto
fatiado!

UMA MANHÃ DE FÉRIAS


UMA MANHÃ DE FÉRIAS

Todos os dias pela manhã,
depois de acordar
com a persiana a bater
no vidro da janela
do quarto,
abro a vidraça
e vejo o mar!
Com gestos lentos
espremo duas laranjas
para um copo redondo
e acrescento gelo!
Corto finamente
uma fatia de pão caseiro
e barro-a
com uma compota de laranja
azeda!
Encho uma meia chávena
almoçadeira
de café com um pingo de leite!
É na varanda grande
de um quarto pequeno
que me alimento
embalada
pela brisa matinal!
Ali, tudo acontece
revendo tantos anos
que passaram,
os gestos quotidianos
quantos sem sentido
e os que inovaram,
revolucionando a vida,
o questionar da existência,
o interrogar se Deus protege
ou protesta a sua ausência!

UM DIA DE VERÃO


UM DIA DE VERÃO

Entre mim
e a linha arqueada
do oceano
o mar ondulando, suavemente
e, o silêncio!
Excluídas as vozes
imperceptíveis
de dezenas de banhistas
e, seus articulados
abafados,
há o aflorar dos golfinhos
ao fim da tarde,
surgem na borda da praia
surpreendendo quem está!
Nada mudou
neste verão escaldante,
o mundo que habitámos
amarfanhado em intrigas
e negociatas,
 o factual diário angustiante,
enquanto o sol quente
barre os corpos tisnados,
gritando por um banho
refrescante!
Não desilude a natureza
e eu continuo a ser eu,
lutando
contra argumentos,
cozinhados em gabinetes
de marketing,
pagos a peso de ouro
pelos nossos impostos,
mantendo no poder
os mesmos de sempre!
Branqueie-se assim
a incompetência
de quem nos desgoverna!
Pois, sou eu, assim
entre o optimismo
e o pessimismo,
sonhando sempre
vencer moinhos de vento
num qualquer apoteótico
amanhecer!