terça-feira, 16 de agosto de 2016

ELISA E A VIDA

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ELISA E A VIDA  

Perdeste o fogo Elisa,
meu deus, o que perdeste.
Corres pela rua apressada,
ah o trabalho, o salário,
é teu  o objectivo do patrão:
crescer a custos mínimos.
Quem quiser que pense,
em casa há os miúdos,
os banhos,
o prato de comida doseado,
o marido desconcentrado
no sofá da sala,
a televisão ligada
a quem ninguém atende.
Todos re determinam
os filhos, o marido, o patrão.
Custa chegar o sono –
a vida, estilhaçada!
Confusos os pensamentos,
enrosca-se no cobertor quente,

amanhã é o último dia da semana.

SIM


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SIM 

Afirmo
como poeta do meu tempo:
hei-de combater até à morte
essa força obscura
saindo das entranhas do passado,
querendo de novo
amordaçar-nos.

MARIANA

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MARIANA  

Dói Mariana dói,
o rapaz que parte,
de repente,
sem qualquer zanga,
explicação,
exaltação.
Há bálsamos para tudo,
queimaduras, equizema,
cortes, arranhões.
Nada há, Mariana,
para as dores de amor.
Reprovam se chorámos
reprovam se disfarçamos,
confundem o torpemente
o que pensam e a vida.
Engalfinhas-te no livro,
último na montanha
que está à cabeceira,
deixas que a ficção
sare o teu coração sangrando.

A MINHA MANHÃ

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A MINHA MANHà 

Sabe a manhã a café com leite,
a torradas com manteiga,
a compota de pêssego e ameixa,
a mel de flor de eucalipto.
Sabe a um tempo longo,
sobrando,
a um infinito
tamanho do nosso olhar,
a lugares longínquos,
a templos por visitar.
A um príncipe de conto de fadas
que não chegava.
A savanas densas
com muitas feras à mistura
A pomares mágicos
com frutas inventadas.
A ti que escolhi
para tomar comigo

a primeira refeição da manhã.