domingo, 14 de abril de 2013

DISCURSO



DISCURSO


Não estou vergada
mas perturbada,
com as palavras de alguém,
algures!
Enrolam-se,
ficam presas
em mentiras públicas
e vícios privados
sem exercerem a sua função!
Correm indiferentes,
ao mal que fazem,
narrativas fúteis!
Centenas de pessoas,
rua acima, rua abaixo,
nesta tristeza muda
de nem saberem
que perderam o futuro!
Beba-se o café quente,
trinque-se as torradas,
alinhem com a doçura do açúcar!
O bocejo é difuso
nem infiltra a inutilidade
da verborreia politiqueira!
Ridículos são os discursos,
com palavras que não se entendem,
ausência de ideias,
propostas nulas,
e nós?
Gastos, apáticos
sentados, adormecidos,
que pena!
Vagamente querendo,
com pouca força,
uma milagrosa mudança!

terça-feira, 9 de abril de 2013

NATUREZA MORTA



NATUREZA MORTA

O prato era branco,
quadrado,
grande,
debruado a azul cobalto!
Bem no centro,
brilhava a ostra,
rugosa,
cheirando a mar!
E perguntei-me:
que raio faz esta ostra,
no centro,
de um prato vazio
cheirando a mar?
Comi a ostra
e o mar
inundou a minha boca,
e eu fui marinheiro,
barco, tempestade,
cantador do futuro!
Procurei soluções,
escorracei ladrões,
planeei caminhos
para este país falido,
em redor de um prato branco
com uma ostra rugosa,
no centro,
cheirando a mar!

PORTO




PORTO

A cidade nasceu,
granítica,
e, depois acordou
com vasos de sardinheiras,
inventadas,
colocadas, sabe-se lá,
por quem,
nas sacadas
de ferro forjado!
Os passantes misteriosos
segredavam-lhe ao ouvido:
como és bela
sobressaindo do nevoeiro
que se vai soltando do rio!
À cidade agradava-lhe,
a leitura de um livro,
de Camilo,
estar numa sala de cinema,
animada,
e, ter casais de namorados,
em janelas enfeitadas,
abraçados pela ténue madrugada!
O cais embalado,
pela agitação da água,
os rabelos coloridos,
e os copos de vinho do Porto
vazios,
depois de saciadas as bocas!

MANHÃ NO RIO


MANHÃ NO RIO

As gaivotas bojudas
deixam as margens do rio,
agastadas,
vêm junto das tendas montadas
comer as migalhas
que vão caindo!
O sol depois da chuva
brilha,
dá cor aos balões festivos,
que as crianças levam
nas suas pequenas mãos!
A tua Kodak
ajusta com pormenor
um momento terno!
O teu sorriso, hoje,
é gratuito, dizendo esperança,
no colo dobrado do mundo!
Sentado no parapeito
da janela, Dona Elisa,
ajusta um bule
de chá de laranja e canela,
como gente,
acompanhado de fogaça
torrada com manteiga!
Dia azul, este,
sem sacrifícios,
morrendo, sem penas,
no poente do Atlântico!

RIMAS


RIMAS

Amor rima com dor,
mar com mergulhar,
a tua mão com luar,
um beijo com a minha boca!
Neste doce balançar,
nos dias de dizer sim,
ai amor não sei-te amar,
se o telefone não toca!
É inútil lamentar
as lágrimas que cada um chora,
se o tema é amar,
não é errado chorar!
Telúrico é o gostar
na noite de sufocar,
umas luzes a apagar,
o lobo a uivar,
na floresta inventada
em frente desta vidraça!

VESTIDO DE DOMINGO




VESTIDO DE DOMINGO

Que lindo é o meu vestido
de ir à Missa ao Domingo!
Tem pintinhas encarnadas,
gargalhadas espontâneas
e salpicos de primavera!
Faz balão,
mostra as pernas!
E os rapazes marotos
rodopiam,
à volta do vestido
que estremece
diante da perspectiva
de se rasgar!
Nunca é demais lembrar
que a mãe o fez com carinho
nos longos serões,
de inverno,
com linhas de amor-perfeito!
Entro na igreja,
ajoelho,
não há nada que eu veja,
só existe o rodopio do vestido,

na exaltação do domingo!