domingo, 10 de março de 2013

ADMITO!

Luís Morgadinho


ADMITO

Admito,
não estava na luta,
gritando na praça pública,
contra os cortes dos subsídios
de férias e de Natal!
Admito,
não me revoltei,
ouvindo o discurso
do nosso Primeiro Ministro,
achando que a dor de um povo,
era uma  triste pieguice!
Não disse basta
perante aumentos generalizados,
dos bens básicos!
Admito,
não fiz greve
quando baixaram os salários,
quando reduziram ajudas,
à miséria envergonhada!
Admito,
não acompanhei a marcha
dos indignados!
Estava já tão fraca,
desiludida, aturdida!
Admito,
estando eu esangue
quando nos chuparam
com colossais impostos,
não desci as escadas,
tão fracas estavam as pernas,
para lhes atirar pedras,
e morri,
fazendo um grande favor
a mim
e ao país,
que de cobardes está farto!

A NOSSA SALA

José Gonzalez Collado

 A NOSSA SALA

A nossa sala
tinha uma cadeira de baloiço,
no canto
junto à janela!
Tinha choro, gargalhada,
vozes, demoras,
amoras em tarte enfeitada!
Tinha amor, tinha paciência,
almofadas coloridas,
maças vermelhas, cestos de verga,
com nozes e amêndoas!
Tinha crianças a correr,
chutos na bola,
passarada a chilrear,
na gaiola da varanda!
Tinha emoções, inquietações
revelações, verões,
nos adultos
e paços de magia!
Tinha arrojos, suspiros,
agressividade,
destroços,
sonhos,
e, uma lareira quente
confortando o fim do dia!
Tinha balões, tinha festas,
desejos, diálogos,
beijos,
mais beijos,
e, um luar,
que de repente
enchia as paredes vazias!
A nossa sala tinha um gato
que avançava cada noite,
a cerca desbotada!
Era mais um, na hora do café quente,
negro, perfumado,
dormindo sobre o tapete azul,
compondo também a sala!