terça-feira, 18 de outubro de 2016

PORTO

COLLADO

PORTO  

O  Porto é um sotaque
agreste, semântico,
um cimbalino quente
na mesa de mármore
do café Progresso,
uma vendedeira ambulante
de avental e chinela
que numa frase vocifera
mais palavrões
que o comum dos mortais
a vida inteira.
O cauteleiro de voz rouca
na esquina de Sampaio Bruno
anunciando displicente:
amanhã anda a roda.
Uma francesinha picante,
generosa, aconchegante.
Um fino muito fresco
com espuma na garganta.
As raparigas afoitas
de tatuagens nos braços
com gargalhadas contidas
a rasgar-lhes a boca.
Uma nuvem granítica
espalhada sobre o Douro,
uma gaivota atrevida
voando para novas paragens.
Um labirinto de ruelas,
enxovais dependurados
em gastas janelas.
Garotos jogando à bola
descalços e atrevidos
levando pelo braço os turistas
a comer os petiscos

típicos do seu bairro.

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