terça-feira, 27 de setembro de 2016

UM DIA DE DOMINGO

Collado

UM DIA DE DOMINGO

Bate descompassadamente
um coração animal
frente à pastelaria Paris.
Sentada numa mesa
diante da montra farta
de bolos, docinhos,
tartes e tarteletes
está a moça de baton vermelho,
riso de desdém
para quem a olhava,
Espreitei-a do outro lado
sento-me mesa com mesa,
pego num guardanapo,
numa bic de aparo fino
e declaro-me.
De rompante um jovem homem
retira do saco surrado
um oboé e toca.
Parou na ruela da confeitaria
uma bicicleta antiga,
a moça elegante escapuliu-se,
monta à garupa e parte.
As pontes permaneceram pontes,
os rios correm para o mar.
No meu dia não
deixo cair no chão
a minha declaração.
Acabo num alfarrabista
da rua das Flores
a folhear livros antigos
de poesia.
Num silêncio apropriado
esqueço o mundo,

as minha desilusões.

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