terça-feira, 9 de outubro de 2018

SOL AINDA


Collado
SOL AINDA 

À noite
cai a neblina,
cheira a mar,
conversas cochicadas,
pedaços de nada.
O sono serenamente
a chegar,
Beethoven a tocar
uma ária
com paixão.
Tudo é uma passagem
pela ponte
pelo rio
ao encontro de um navio
naufragado em Miramar.
Cordas
enroladas no cais,
ais pendurados
em fios eléctricos,
o tempo a passar
tão rápido
que o vento leste
não o consegue apanhar.
A chuva não cai
a terra está tão seca,
as mãos espremem
um lenço
que não deita água.
Os sonhos subiram
ao sótão da minha avó,
encaixoto-os
numa arca de pinho,
quero barulho,
pés a bater no chão,
ler Marcuse, Platão.

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