quarta-feira, 12 de junho de 2013

SAUDADE



Saudade
O meu avô
tinha umas mãos grandes
que aqueciam as minhas
nas manhãs de Outono
quando subíamos ao pinhal
para colher as últimas amoras,
matéria prima
da compota doce, escura,
pegajosa,
que barrava generosamente
o pão amargo de centeio!
Tinha curiosidade,
eu um pequeno fedelho,
em relação a tudo:
o cheiro molhado da terra,
o arado a rasgar a leira,
o chilrear da passarada,
a água a correr na caneja!
Enquanto se desviava a água
para a rega,
brincava com o relógio de bolso,
do avô Manel,
adiantava os ponteiros
para que chegasse depressa
a merenda!
Numa toalha improvisada de folhas,
retirava-se da cesta de verga:
pão, azeitonas, tiras de presunto
e um pichel de vinho tinto!
No fim do dia, cansada,
os meus braços ainda transportavam
as azedas,
com que a minha avó fazia a açorda
para a ceia!

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