quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

VOAR

Maria da Glória

VOAR  

Quando era menina
a noite tinha sonhos dentro,
alada voava
sobre o riacho da aldeia
pejado de nenúfares e rãs.
Às vezes caíam-me as asas
e aterrar era medonho
com tracção aos dois pés.
Ao ser perseguida pelo vilão
saltava o coração,
as rezas ensinadas pela religião
não funcionavam,
batia repetidamente as asas
e nada.
No último segundo antes
de ser torturada
arranco em velocidade, e voo,
deixando de boca aberta o paspalhão.
Tudo se passava fora da hora
do expediente,
em noites mágicas e quentes.



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