quarta-feira, 1 de julho de 2015

ANA

António Sampaio

ANA

Acredito nela
como acredito em mim.
Numa tarde auspiciosa,
embrulhada em Primavera,
levei um ramalhete de orquídeas,
um frasco de compota
de mirtilos
para celebrarmos o dia.
Deve ter razão a Ana
enchendo a mesa
de ferro forjado
com bules de chá de menta
e caixinhas de doces de mel
e gengibre,
para dar brilho à coisa
um cesto de cerejas do Fundão.
Esperámos os dois,
sentados displicentemente,
bebericando o chá,
trincando os bolinhos,
falando com saudade
dos ninhos,
só espreitados,
nas  árvores gigantes
do pomar.
Que entre alguém:
um duende,
um ser de luz,
uma fada,
aprovando os nossos gestos
agendados,
novos deuses,
amoras douradas,
acrescentando brilho
a um lanche  burguês,
numa casa velha,
numa quinta improdutiva

herdada pela Ana.

Sem comentários:

Enviar um comentário