Adrian Borda
QUOTIDIANO
A Maria estava zonza
sentada na cadeira do metro
que a levaria à Trindade.
Dormiu mal,
via a paisagem rodando
numa dança de salão,
ora com par, ora não.
Mas que grande confusão
no corredor,
o rapaz traquinas
puxava o rabo de cavalo
da criada do Comendador.
Ninguém calava
a sua gargalhada estridente.
O senhor Ricardo
dono do tasco
agachado na rua da Madeira
fazia cara feia à sua dor de dentes.
O rapaz barbudo
que trabalhava no quiosque
em frente a S. Bento
despedia-se sofregamente
da sua recente namorada.
A carruagem apinhada
de meninas apressadas
para abrir as lojas
de lembranças para turistas.
A Maria só olhava
não dizia nada,
queria saltar pela janela
e dançar nua
diante daquela gente toda
agarrada à lapela
de qualquer poeta inconsequente.
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