quinta-feira, 27 de setembro de 2018

JARDIM DA CORDOARIA

Coladdo
JARDIM DA CORDOARIA

Velhas árvores alinhadas,
verde escuro, amusgadas,
alindadas, deformadas,
dando personalidade
ao Jardim da Cordoaria.
Protótipos de outras
servindo de forca
a contestatários
envolvidos em lutas bravas
e míticas revoluções.
Por hora, desejosas,
do Outono envergonhado,
soltam dos ramos
folhas leves, secas,
pintadas de arco-íris.
São ainda casa de pássaros
sem acesso a calendário,
permanecem,
guiados pelo calor fora de época.
Um sem abrigo encosta-se
a umas raízes expostas,
tira do saco um pão seco,
o resto de um queijo encetado
e almoça num silêncio frio.
O dia esvai-se,
o jardim escurece,
as formigas trabalhadeiras
limpam as migalhas.

RELÓGIO

Coladdo
RELÓGIO

Parou o relógio,
o tempo não flui
pendurado
nos ponteiros silenciosos.
Falta o bater das horas
a lembrar
que existimos
nesta correria louca
de fabricar vida
a olhar pela vidraça
da janela embaciada.
O pêndulo inerte
não descreve o meio circulo
em dança coreografada.
Parou nas doze horas
de um dia aziago
assim ficou  mudo e quedo.
Num golpe de saudade
foi consertado,
colocado no lugar.
Eis o guardião do tempo,
a lembrar dia a dia
a brevidade da vida
que se acaba
a cada minuto rodado.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

UIVA VENEZUELA

Viktor Vasnetsov

UIVA VENEZUELA

Paguem
pelas crianças que não nasceram
e as que morreram ao nascer.
Paguem
todo o sofrimento das mães
sem alimentos para os filhos.
Paguem
pelas lágrimas dos médicos
sem meios para curar pacientes.
Paguem
pelos velhos abandonados
apodrecendo
nas calles quentes da capital.
Paguem
pelas hordas de refugiados
não sabendo para onde ir.
Paguem
os corações a parar,
o choro sufocado,
a dor sem medida,
na ausência de soluções.
Paguem
o roubo da esperança,
dos sonhos,
do porvir.
Paguem
a negrura de um país
desfalecendo
em redor de uma bandeira,
de um hino,
de uma pátria  a soçobrar.
Paguem
as mentiras descaradas,
dos governantes indecentes
pisando sem escrúpulos
um povo moribundo.

QUESTIONANDO

Collado

QUESTIONANDO

Para onde vais
por essa vereda estreita,
a noite é cerrada
e a lanterna gasta.
Amor entornado
em dias iguais,
o frio arrefece
os batentes dos portais.
A vida enregelou
nas noites de espera,
empacotada em surdina
em fios de colchas de renda.