Albano Neves e Sousa
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numa terra cobiçada,
África ardente,
ofertando ouro, marfim,
malagueta e mão de obra,
fui arrastado da minha casa,
acorrentado, vergastado,
metido à força
dentro de um navio
negreiro!
Às pressas e sem compaixão,
num dia malfadado,
soube o que era um porão,
apinhado de negros escravos,
onde faltava tudo
até o pão !
Fui humilhado por tudo e por nada,
vi morrer à minha frente
gente desesperada!
Num silêncio amordaçado
fui levado par uma terra distante,
muito pouco abundante,
onde me fizeram criado,
de um fidalgo malcriado!
Vi - me de boca e coração atado,
onde até me foi negado
esse direito de amar!
Separei roupa,
coloquei cabeleiras encaracoladas,
em cabeças tresloucadas,
encerei bigodes claros
de finórios,
calcei meias e sapatos,
e ainda outros artefactos
de cavaleiro falhado,
antes de entrar na caleche
com que passeava no Chiado!
E à noite de mansinho ,eu,
tocava batuque baixinho,
era tudo o que me restava,
da minha terra amada!
Mas a força da batida
entoava e marcava
a história da escravatura!