sexta-feira, 17 de julho de 2015

REGRESSÃO

Almada Negreiros

REGRESSÃO  

Fechados os olhos
há o regresso à infância,
o arrombar todas as portas
sem consequências de maior,
só o tabefe
que ficava marcado
desaparecendo de manhã.
O coração era uma corsa
batendo descompassado
no intervalo das aulas.
Os tímpanos automaticamente
fechavam
logo que a professora gritava:
seis bolos pelos erros no ditado.
Renunciava-se às regras
e nadava-se no lodaçal
da ribeira.
Tínhamos a eternidade,
esticavamos a corda
a ver se aguentava

o nosso peso intemporal.

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