quinta-feira, 30 de julho de 2015

INSTINTO

Almada Negreiros

INSTINTO  

Cheiras de longe o baile do ano.
Ficaste às aranhas, choravas,
cheguei
montado na mota velha,
ajoelhei-me devoto
concertei como pode
o teu chinelo encarnado.
Tu disseste:
que bom teres aparecido.
Ergui-me como um pavão,
mostrei os músculos trabalhados,
abracei-te forte,
ofereci-me para tua companhia.
Não te faltei,
não me faltaste,
voava o teu cabelo farto,
contra o vento,
contra a pressa
de chegarmos.
Tudo ardeu em lume brando
na pista de dança
improvisada,
até nos transformarmos
em coloridas borboletas.

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