terça-feira, 20 de outubro de 2015

O CASAMENTO DA ELSA

Almada Negreiros

O CASAMENTO DA ELSA  

A igreja tem trezentos anos,
o ouro do Brasil dourou-a,
mas é modesta,
o único luxo é a talha.
Espera-se a noiva,
acendem-se as velas
no altar da Virgem,
padroeira do enlace.
A chuva cai com força,
dizem que dá sorte.
O senhor abade
resmunga do atraso,
o fotógrafo
apronta a máquina
e a menina das alianças
pendura uma no nariz.
O sacristão baixote
e barrigudo, espreita,
no adro não se vislumbra
a noiva.
Alvoroço,
desce solenemente a moçoila
da limusina alugada,
branca e bela,
bela e linda,
comove-se a mãe e o pai,
desce uma lágrima furtiva.
O coral afinado
canta a Avé Maria de Shubert.
O anjo da guarda da Elsa
está ali,
e  a avó Ana
que morreu o ano passado
dá-lhe a mão,
entram no templo,
é preciso celebrar

o casamento da neta.

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