terça-feira, 13 de outubro de 2015

DEOLINDA

Anita Malfatti

DEOLINDA  

Recompõe-se,
esquece a melancólica infância,
numa aldeia parada,
dum fim de mundo anunciado,
debruça-se na vedação
dividindo o rio do prado,
pensa na vida.
Oscila entre ficar e partir,
aqui não aparece nada,
as mãos esquecem-se
de cortar o tecido,
da prova, da confecção.
Que belos que eram os fatos,
acabados e passados,
pendurados nas cruzetas.
As palavras baralham-se
no cérebro,
os argumentos atropelam-se,
vai hoje, já,
antes que se arrependa
toma o comboio internacional
até França.
Fará novamente vestidos
lindos,

para as madames dos subúrbios de Paris.

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