sábado, 5 de março de 2016

PÁSCOA ANTIGA

José Gonzalez Collado

PÁSCOA ANTIGA  

A pobreza abocanhava os dias,
as casas eram um amontoado
de blocos de cimento,
telha vã, chão de terra batida.
Sem água canalizada,
os esgotos uma miragem.
As crianças ranhosas, desnutridas,
educadas à força de pancada.
As meninas de tranças
presas no coruto da cabeça
os moços de chancas,
roíam a côdea de broa
cozida no sábado
para a semana toda..
Na véspera de Páscoa
a ciançada era arredada,
os homens iam para a tasca,
todo o mulherio da casa
levava a cacarada para a rua.
Limpavam a fuligem do Inverno
impregnada nas paredes nuas,
o lixo acumulado na cozinha,
areavam as panelas,
desinfectavam os penicos.
Dentro do nada
tudo brilhava,
anunciava-se a Páscoa,
Aleluia.

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