terça-feira, 10 de abril de 2018

A CASA DA MINHA MÃE



José Gonzaléz Collado
A CASA DA MINHA MÃE 

Sobe-se uma escadaria
o jardim ao cimo reclama
um pouco mais de atenção.
As buganvílias, as azáleas,
as hortenses, as dálias
meio murchas
suplicam água.
Nos baixos uma cave
maior que toda a casa
espalhando-se
abandonados
as enxadas, os ancinhos,
os gadanhos, as forquilhas,
as foucinhas, os cestos,
as tesouras de poda
mal afiadas.
A horta é um arco iris de cor
as beterrabas, as beringelas,
os tomates, os pimentos
as cenouras, as cebolas.
O forno de lenha há muito
apagado, silencioso,
guardando as memórias
das fornadas de regueifa
cheirando a canela e limão,
a Páscoa, a aniversários,
a gaudeo da filharada
comendo o ovo frito
que sobrou.
A sabor da compota de alperce
acre e brilhante,
a marmelada espessa
em tigelas verde alface
compradas no fim da feira.
Às taliscas de presunto
cortadas à pressa
não vá a mãe dar por ela.
O cheiro a Primavera
os sentidos libertando-se
nos ciclos anuais da natureza.
O Inverno rigoroso
atravessado as janelas,
o nariz colado ao vidro
querendo parar o frio.
A paz que fazia
naquela calmaria
enquanto se comia
o assado de domingo
debaixo das videiras.

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