No tempo da
minha avó
vestir-se era um
acto heróico,
comecemos do
princípio:
uns cuecões até
ao joelho
de linho tecido
em casa,
uma camisa até
aos pés
cobrindo formas
e desejos,
um corpete
segurando as mamas
apertado por fios
cruzando-se em ilhós
um saiote rodado,
uma saia de
merino ou chita
conforme a
ocasião,
uma blusa de
manga comprida,
um lenço
estampado
cobrindo os
longos cabelos
encaracolados,
um chapéu de aba
larga
protegendo do
sol nas leiras,
ou chapéuzinho
de dama
se fosse à missa
primeira,
uns socos para a
labuta
e umas meias de
estopa,
para completar o
trajo domingueiro
umas chinelas
bordados
e meias de fino
linho.
À ilharga uma
bolsinha de pano
onde guardava o
lenço e o rosário.
O dinheiro era
guardado
entre os seios
ali ninguém
chegava.
Um dia, no meu
aniversário,
como por magia
sai do seu decote
uma nota
pequenina
estampando o
Santo António.
Foi Natal,
Páscoa, dia de S. João.
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