quarta-feira, 29 de abril de 2015

BÊBADO

José Malhoa

BÊBADO  

Todas as noites
infalivelmente
percorre o caminho estreito
desde a sua casa até à tasca.
Senta-se ao balcão,
olhos nos olhos do tasqueiro,
pede,
copos cheios de vinho tinto.
De cada vez que esvazia o copo
dá um estalido de satisfação
e pede com sofreguidão
mais outro e outro.
Ao fim de duas horas,
com dificuldade levanta-se,
as pernas arqueiam,
segura-se às paredes,
depois de alguma tertúlia
atina com a porta da saída.
Chega sempre a casa
pelo mesmo caminho
demorando o preço preciso.
É um ritual diário
neste matar a dor
mais forte que o vinho.

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