Porfírio Alves Pires
FOTÓGRAFO
Virou o meu pai um fotógrafo
no dia em que chegou a casa
com máquina e uns rolos na mão.
Procurava a melhor luz,
um golpe de visão
e fotografava a família
nas lembradas ocasiões.
Em dias de Comunhão,
ajuntamentos de irmãos,
festividades da freguesia,
Páscoa e Natal.
Que grande consumição
os rolos e a sua revelação,
só no Porto é que o faziam
para nossa aflição
Sentado no murete da entrada
assobiava, a catraiada corria
e em transe revia a vida
naquele papel.
Um luxo na altura
guardado até novas ordens
na gaveta do guarda fatos
do quarto da minha mãe.
Hoje são recordações,
olha a roupa dos anos setenta,
os cabelos compridos,
os óculos de tartaruga,
as calças à boca de sino
e muita, muita emoção.
A mãe de permanente fechada,
o pai de bigodaça farta
e chapéu cobrindo a careca.
O pombal no alto do jardim
repleto de pombas,
a bugambilia florida.
A avó Olinda rezando com devoção,
aceitando todos os castigos
da sua Católica Religião.
Hoje a casa está vazia
não restando sequer os retratos
ali tirados,
só um silêncio, frio e pesado.
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