terça-feira, 30 de abril de 2019

RELEMBRANDO


Collado
RELEMBRANDO

Não é para esquecer
o cinza pesado do passado,
o não poder respirar-se
de tanto o ar sufocando.
Não é para esquecer
a miséria
que se prolongou pós-guerra,
as crianças descalças,
a fome instalada.
Não é para esquecer
os mortos de guerra,
as viúvas por casar,
as mães de olhar vazio.
Não é para esquecer
as bocas fechadas,
os sonhos emparelhados
nas prateleiras do tempo.
Não é para esquecer
a repressão nas fábricas,
nos campos alentejanos.
Não é para esquecer
o grito prolongado, o pranto
dos poetas engajados.
Não é para esquecer
a oposição vencendo
as sombras do medo
e depois à descarada
no parlamento amarrado,
vencendo com a palavra
a maldição da ditadura,
fazendo a democracia acontecer.
Não é para esquecer,
o respirar das facas
afiando-se nos quartéis
para libertar-nos.
Por todos os que morreram,
por todos os presos
e torturados.
Por todos os que foram silenciados,
por todos os que ergueram  
a bandeira da luta
a nossa solidariedade,
o eco das nossas vozes desarmadas.

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