terça-feira, 28 de novembro de 2017

PAUSA


José Gonzalez Collado
PAUSA     

Pausa em tarde seca.
Os olhos fecham-se,
esticam-se as pernas ao sol,
esquisitice deste Outono.
Presente um burburinho
continuo, irritante.
Os sem abrigo negros
estabeleceram-se
nos Poveiros,
bebem de pacote
uma zurrapa tinta
ouvindo em altos gritos
as últimas músicas
do top angolano
em rádio gigante.
E falam, falam
ao telemóvel
num linguajar
de sotaque balançado.
Eu, no meu íntimo silêncio,
penso, quero,
o barulho dissipado,
à margem de tudo
que nasça mais um poema.
Com café dentro,
 páginas de jornal lido,
a disfunção entre dois mundos:
os que têm cama quente

e os que dormem ao relento.

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