José Gonzalez Collado
FAMÍLIA
Sandim,
lugar do Calvário,
ao cimo a capelinha
da senhora das Neves,
uma casa igual
a muitas outras,
ali nasceu o meu pai,
na casa que foi dos meus avós.
Soalho de tábuas corridas,
a sala, uma mesa grande,
santuário cheio de imagens
divinas.
A cozinha, centro da casa,
o louceiro de pinho,
guardando a louça
de barro cozido,
a lareira sempre acesa,
achava-a
do tamanho do mundo.
O fumeiro rescendendo,
a resina estourando
na lenha mal seca.
As batatas cozidas com pele
na panela enorme de ferro.
Os tios cheios de fome
comendo à socapa,
engasgando-se.
A visavó Margarida
cortando a broa de milho,
meticulosamente,
como se fosse avaliada por isso.
Os rituais repetidos
no dia a dia de gente pobre.
Trabalhar, alimentar,
sobreviver em tempos difíceis.
O relógio antigo
batendo compassadamente
as horas.
As tias mais novas
alisando os cabelos pretos.
O meu avô tirando do baú
o violino
e eu espantada a ouvir
os sons lindos
saídos da caixa de madeira.
Na parede alinhados os retratos,
a visavó paterna,
o avô e a avó,
os quatro primeiros rebentos
de uma prole imensa.
Dessas gerações entrelaçadas
restámos nós os bisnetos,
ainda ardendo em chama
enquanto vislumbrámos
a eternidade.
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