terça-feira, 20 de novembro de 2018

PORTA

Collado
PORTA

Era uma porta velha
com fissuras
de ventos e temporais,
porta de carvalho ressequido,
forte como aço
e aconchegante no abraço
com que nos recebia.
No Natal a criançada
entrava algariada
com prendas coloridas
penduradas nos olhos claros.
A avó atarefada, na cozinha
oferecia coscorões e rabanadas,
o calor da lareira acesa
e um beijo repenicado.
Pela porta aberta a todos
os de boa vontade
entrou alegria, tristeza,
o médico na hora da doença,
o padre com o cristo redentor
que se beijava na Páscoa.
Os familiares próximos
e os amigos chegados,
os vizinhos com recados,
e pedintes fixos
buscando o soldo ajustado
e semanal.
Durou, durou, durou
o tempo que a matriarca ficou
à frente daquela casa.
Hoje é uma ruína à espera
que alguém a cobice
e inicie uma nova vida
entrando com gosto
pela vetusta porta
firme e disposta a abrir-se
a outra realidade.

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