quinta-feira, 19 de maio de 2016

GENTE NA CIDADE

Collado

GENTE NA CIDADE  

A velha gorda na esquina
da rua de Passos Manuel
vende pentes, alfinetes,
collans e cuequinhas,
a loura postiça desbragada
na rua de Santa Catarina
vende meias
para homem e criança.
Em dia de futebol,
estrangeiros contra o Dragão
corre tudo ao palavrão.
Os ciganos de saquinho na mão
oferecem óculos contrafeitos
a jovens namorados.
Os pedintes, ah esses abandonados
enxameiam a cidade
fazendo das entradas
de lojas abandonadas
as suas mansardas,
cheirando a álcool e a exclusão.
A velhinha lavradeira
entre Sá da Bandeira
e Fernando Tomás
apregoa com voz débil
molhinhos de salsa e hortelã.
De manhã cedinho,
no largo dos Lóios,
uma vareira à moda antiga,
de canastra erguida,
anuncia peixe vivinho da costa.
Até quando durarão
estes bilhetes postais
de uma cidade antiga,
querendo ser moderna
e ainda tão saloia.

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