José Gonzalez Collado
IR
Nos olhos azuis rasos de mar,
passa o eléctrico rumo à Foz,
o dia atípico esvai-se,
a alma perde-se no areal.
Partir às vezes é solução,
quando se olha em redor
e nada nos acrescenta.
nem nós à cidade, ao mundo,
enredados em baldes de água fria.
Mesmo a dizer adeus
ficarei nas ruas, nos lampiões,
no sol laranja sanguinia
desaparecendo no horizonte,
nas dores da ausência,
nos copos de sangria
bebidos sofregamente
numa varanda sobre o Douro.
No velho café démodé,
na ainda mais velha cadeira
onde me sento,
no tampo de mármore da mesa.
Vem-me às mãos
um caderno amachucado,
alinho palavras sem sentido,
medos do amanhã e do depois,
de outros tomarem as rédeas,
das promessas por pagar.
A madrugada desloca-se
na partida de um comboio do cais,
a saudade é visceral,
permanece firme
no nevoeiro que envolve o rio
e em mim.
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