Dina de Souza
JOGAR COM PALAVRAS
1
As famílias têm algo de perverso
tanto distribuem confeitos coloridos
como espetam o gancho dourado da avó
nas falanges de cada dedo dos próximos,
sem dó nem piedade.
2
Rezava
desde miúda à Santa Rita,
um costume que me ficou,
de tanto o ouvir à avó Olinda,
encontrava em Deus
e nas figuras celestiais
todo o conforto
que os humanos me negavam.
3
A minha mãe em dias festivos,
acendia o forno a lenha,
amassava e cozia regueifa doce
com que nos lambuzávamos
derretida sobre ela a manteiga.
As mãos no fim da tarde, doridas,
ainda colhiam glicínias
para encher as jarras
que enfeitavam os nossos lanches
cheios de risos e brincadeiras.
Lindos esses tempos
por serem felizes
longe das dores e dos silêncios.
4
As amigas que com ela tomavam chá
de lúcia lima, todas as sextas feiras,
tornavam à vida diária
com a íris colorida de azul,
desenvolviam olhares arriscados
donde nasceram casos
com homens confundindo a vida
com olhos azuis.
5
Quem conhece de facto as raparigas?
Fazem tudo para atrair o macho
e depois cansam-se.
6
Fala comigo
nem que seja
para nada dizer.
Depois do Inverno
vem a Primavera,
florescem
as ameixieiras
para fazermos sandálias
debruadas a luar.
7
Como se chama
quem cegou o coração
e lhe deixou uns óculos
escuros, pendurados?
8
As pérolas
caem no veludo negro
depois de usadas
são de um branco sujo.
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