quarta-feira, 6 de maio de 2015

PARA LÁ DA MORTE

Picasso

PARA LÁ DA MORTE 

Morri,
pus-me na fila
imensa,
esperando
a entrada no inferno
ou paraíso.
As escadas que percorríamos
eram estreitinhas,
poidinhas,
ladeadas por anjos e demónios,
levando a deus e ao diabo
os recados
dos novos falecidos.
Do outro
havia uns cães treinados
para farejar os pecados
antes da última triagem.
Deixei-me ficar parado
numa sonolência esquisita,
sem que eu imaginasse
a balança parou
igualmente entre deus e o diabo.
Deus envelhecido,
mãos tremelicantes,
desceu numa nuvem
e disse-me:
dou-te o beneficio da dúvida.
Prenderam-me umas asas
amarrotadas,
mandaram-me de volta:
age,

desequilibra a balança.

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