terça-feira, 10 de julho de 2018

UMA SALA


J. Valcárcel
UMA SALA  

No fundo da caixa negra
sob a janela
da pequena sala,
havia um mundo de fantasia,
e, por magia ou imaginação
de lá nasciam
todos os sonhos do mundo.
Nas longas tardes de estio
de sol abrasador,
servia aquela sala de refúgio
de caça ao tesouro escondido.
Eram moedas
do tempo dos reis,
socas de tacão
enfeitadas de flores e corações,
saias bordadas a vidrilhos,
corpetes apertados
com fios a ilhós.
Garrafas de vinho do Porto
perdidas em tempos idos
e um monte de cartas de amor
embrulhadas em papel pardo.
Nunca percebi a qual das tias-bisavós
pertenciam: se à Rosa se à Ludobina.
Aquelas senhoras de rugas vincadas,
sorriso baço,
solteironas sem escolha,
também amaram,
também sofreram de amor.

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