quarta-feira, 3 de setembro de 2014

SEM DIREITO A UMA MANTA

Isolino Vaz
SEM DIREITO A UMA MANTA

Quando eu era criança,
bebé de gente pobre
não tinha direito a manta
macia
que o cobrisse no berço!
Das sobras da produção
de uma das fábricas de papelão
nas margens do rio Lima,
fazia-se umas baetas cinza,
ásperas,
encardidas como o fumo
das chaminés,
dos bairros tristes
onde moravam os operários!
Com elas se cobriam os petizes!
Feita a escola primária,
sem convicção,
os meninos e meninas,
eram levados pela mão
até ao capataz
da fábrica de papelão
para ganharem o seu pão suado!
O João espertalhote
sempre achou
que ali o destino
seria sombrio!
Com a mesma baeta
que o aconchegou
fez uma bandeira rubra,
exibindo-a
nas reuniões acesas
do sindicato que abraçou!

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