J. González Colado
Rios de suorleme em lume
cais onde o lodo reveste
qualquer desejo perene,
o barlavento assustado
e o gado desassossegado
neste fim do mundo
ausente,
águas salobras
que afectam os narcisos
gritos de uma voz desasada,
quilhas de barcos do tempo,
relógios de sol parados,
gargantas sequiosas
nos espaços inacabados,
destinos densos,
sílabas encadeadas
em amores finados,
frutos com lábios magoados,
cavernas abandonadas,
facas, gumes, queixumes,
poemas, livros, estantes,
e cada vez mais distante
o amor que se sentiu um dia!
Demónios mordidos,
vampiros caídos,
loucuras pensadas,
preces, risos e terços
presos em cada sermão
na triste procissão
do Senhor dos Aflitos!
Siso, choro e lamento
em ais de cais esquecidos,
filhos de um tempo esgotado
num estendal dependurado
nos quatro cantos do medo!
Momentos únicos do ano,
muros sentados na vida,
arpões, peixes castrados,
pátrias de bocas safadas,
monções, recordações,
porões, aleijões,
no adeus desesperado,
sem sentido e sem passado
ao amor que deixou de ser sagrado!
Maria Olinda Sol
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