sexta-feira, 9 de maio de 2014

ROSA

Isolino Vaz
ROSA

Feita a quarta classe
com pouca distinção,
nunca se lhe conheceu o condão
para as contas,
colocou-lhe a mãe
um avental lavado,
penteou-lhe o cabelo negro,
deu-lhe uma trouxa
com trapos mal passados
e fizeram-se a caminho
da vila!
Servir era o destino destinado,
numa terra onde nada havia
a não ser uma lavoura primária!
Chegaram de pernas cansadas
e pó colado às caras!
A casa da patroa era grande,
a Rosa sorriu,
tudo limpo,
objectos desusados
espalhavam-se nos móveis finos!
E os meninos,
os meninos, que lindos,
tão loirinhos!
Rosa levanta-te,
Rosa põe a mesa,
Rosa prepara o pequeno-almoço,
acompanha os meninos à escola,
brinca com a bebé,
olha a mala do patrão ,
suporta a bofetada do Ruizinho!
Que vontade de chorar,
tanto cansaço,
não tenho espaço
e a liberdade não estava
no contrato!
Olho de cima do terraço,
a aldeia por detrás da colina,
juro:
ainda um dia hei-de fugir!

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